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AS FREIRAS

FReira-do-bugio _Filipe Viveiros.jpg

Nome Científico

Freira-da-madeira
(Pterodroma madeira) 

Freira-do-bugio
(Pterodroma deserta) 

Estatuto taxonómico | Distribuição | População

Freira-da-madeira
Espécie endémica da ilha da Madeira.
População estimada em 65 a 80 casais.

Freira-do-bugio
Espécie endémica do Bugio – Ilhas Desertas.
Espécie recentemente separada da pterodroma de Cabo Verde (Pterodroma feae), com base em estudos genéticos (2009).
População estimada em 160 a 1
80 casais.

Estatuto de conservação

Freira-da-madeira
“Em Perigo” - pela Lista Vermelha da IUCN e pelo Livro Vermelho. 

Freira-do-bugio
“Vulnerável” - pela Lista Vermelha da IUCN e pelo Livro Vermelho. 

Descrição 

Freira-da-madeira
As Freiras são espécies da família Procellariidae. Em ambas as espécies a plumagem é semelhante, com as asas e o dorso de tonalidade escura, quase preta. O ventre é esbranquiçado e a cauda de cor cinzenta. Apresenta 32-34 cm de comprimento, 80-86 cm de envergadura e pesa cerca de 200 gr.

Freira-do-bugio
São morfologicamente diferentes no tamanho. A freira-do-bugio tem maior porte e um bico mais robusto. Apresenta 33-36 cm de comprimento, 86-94 cm de envergadura e pesa acerca de 300 gr. Geneticamente são muito distintas não partilhando ancestral comum.

Habitat 

Freira-da-madeira
As Freiras são aves marinhas pelágicas, que passam grande parte do seu ciclo de vida em alto mar. Nidifica no Maciço Montanhoso Oriental, acima dos 1600 metros de altitude nas escarpas ingremes e inacessíveis, em patamares (mangas) de vegetação nativa (maioritariamente herbácea) e em bom estado de conservação. 

Freira-do-bugio
A maioria da população nidifica no planalto sul do Bugio, numa área de vegetação herbácea inacessível e restrita, com menos de 20 ha, a cerca de 380 metros de altitude.

Reprodução

Freira-da-madeira
A partir do final de março / início de abril, a freira inicia as visitas às suas áreas de nidificação. Numa primeira fase a preparação do ninho, posteriormente o acasalamento, êxodo pré-postura e retorno à colónia. Seguem-se as fases de postura (entre meados de maio e final de junho), incubação, eclosão e a partida dos juvenis que decorre até outubro. Ambas as espécies escavam os seus ninhos no solo, onde o coberto vegetal se encontra em bom estado de conservação e solo suficientemente estável.

Freira-do-bugio
A freira-do-bugio chega à colónia em junho, para dar início à limpeza dos ninhos, acasalamento e cópula. Após o êxodo pré-postura os primeiros ovos são colocados em meados de julho. A eclosão dá-se a partir de meados de setembro e os juvenis saem do ninho a partir de meados de dezembro.

Comportamento

Freira-da-madeira
Têm comportamento maioritariamente noturno. Vêm aos seus ninhos em terra após o por do sol, regressando ao mar antes do nascer do sol.

Freira-do-bugio
O comportamento é semelhante entre as espécies.

Alimentação

Freira-da-madeira
Ambas as espécies alimentam-se de cefalópodes e peixes mesopelágicos. Na época de invernada, as Freiras viajam para longe da sua colónia, sendo que são conhecidas algumas áreas utilizadas na costa brasileira, em redor do arquipélago de Cabo Verde, na costa sudeste dos EUA e em águas pelágicas no Atlântico Sul central. 

Freira-do-bugio
Estudos recentes mostram que durante a época de reprodução as Freiras percorrem longas distâncias numa única viagem para se alimentar, podendo atingir cerca de 12 000 km, no caso da freira-do-bugio.

Estatuto legal

Freira-da-madeira
Listada no Anexo I da Diretiva Aves e no Anexo II da Convenção de Berna. A totalidade da área de nidificação está identificada como: ver Área de Intervenção 

Freira-do-bugio
Listada no Anexo I da Diretiva Aves e no Anexo II da Convenção de Berna. A totalidade da área de nidificação está identificada como: ver Área de Intervenção 

AMEAÇAS

AMEAÇA 1 (incêndios) ©IFCN.JPG

Degradação do habitat e consequente risco de destruição dos ninhos por incêndios no Maciço Montanhoso

(Freira-da-madeira)

Após a remoção das cabras e ovelhas selvagens em 2005, a área apresentou uma recuperação lenta, mas constante. No entanto, essa restauração do habitat foi interrompida em 2010, quando um forte incêndio atingiu a área. Nesse ano, 80% dos ninhos ativos foram destruídos, em que 98% dos juvenis foram mortos e um número indeterminado de adultos também morreram.

 

O fogo criou as condições para o estabelecimento de plantas invasoras (por exemplo giesta), estas por sua vez muito mais propensas ao fogo do que a vegetação autóctone. Nos dias de hoje, num cenário de alterações climáticas e aumento do risco de incêndio, esta é uma grande preocupação. Outro fator limitante relacionado às plantas invasoras é a redução de áreas de nidificação adequadas.

AMEAÇA 2 ninho bugio ©Pedro Nascimento.JPG

Degradação do habitat provocado por eventos meteorológicos extremos, como chuvas fortes e localizadas que provocam inundações e desabamentos

(Freira-do-bugio)

O habitat de reprodução da freira-do-bugio está a recuperar lentamente, mas nos últimos 8 anos um elevado número de ninhos foi danificado por chuvas fortes localizadas. Esses eventos, associados às alterações climáticas, provavelmente serão mais frequentes. Este tem sido um fator importante no insucesso da reprodução.

AMEAÇA 3 (gato câmara) ©LIFE Pterodromas4future.JPG

Predação por espécies introduzidas invasoras

(Freira-da-madeira)

A introdução de predadores terrestres pelo homem, como ratos e gatos, tornou-se na maior ameaça às aves marinhas, principalmente em habitats de ilhas, afetando severamente a reprodução e a continuidade de espécies. Devido aos predadores, muitas aves marinhas vão se deslocando para locais mais inacessíveis.

 

O atual programa de controlo de predadores na área de nidificação da freira-da-madeira está a decorrer desde o final da década de 1980, provavelmente um dos mais antigos no mundo. Ao longo dos anos este controlo tem garantido a conservação desta espécie única, através da criação de zonas de exclusão de predadores e do esforço do trabalho de campo na monitorização de armadilhas. No entanto, quase todos os anos são registadas mortes de aves por predação, resultado da constante presença destes predadores na área e da sua resiliência ao esquema de controlo.

AMEAÇA 4 ©Ruben Jesus.jpg

Poluição luminosa em terra (Freira-da-madeira)

e no mar (ambas as espécies)

Outra ameaça muito significativa que afeta as duas espécies é a poluição luminosa. Na Madeira, ao sair e a chegar aos ninhos, as aves marinhas têm de sobrevoar as zonas costeiras povoadas. Há um forte impacto nas populações destes grupos de freiras, principalmente na sobrevivência dos juvenis. Todos os anos, freiras encadeadas (~ 1-3) são encontradas nos centros urbanos. A poluição luminosa no mar, principalmente associada à pesca, é outra importante fonte potencial de mortalidade para estas espécies, atualmente pouco estudada.

AMEAÇA 5 ( vereda areeiro) ©Marta Nunes.jpg

Uso humano das áreas de reprodução para lazer e turismo

(Freira-da-madeira)

O Areeiro é uma área cada vez mais procurada para o turismo e atividades de montanha, representando uma séria ameaça para as aves reprodutoras. Caminhar nas mangas de nidificação causou recentemente a destruição de um ninho e a morte de um  juvenil de freira em 2019.  Atividades noturnas podem causar perturbação nas aves a chegarem aos ninhos devido às lanternas utilizadas. É vital a regulamentação destas atividades e criação de fortes campanhas de sensibilização.

AMEAÇA 6 (vigilante escarpa) ©Pedro Nascimento.JPG

Conhecimento insuficiente sobre o tamanho e tendências da população (ambas as espécies)

e localização de áreas de nidificação (Freira-da-madeira)

O estudo da biologia e ecologia de ambas as espécies é difícil, devido à inacessibilidade e afastamento das áreas de nidificação, associadas às condições meteorológicas que podem ser extremas.

 

Para a freira-da-madeira, a constante presença de pessoas nas imediações das áreas de nidificação, a dispersão da espécie para novas áreas após os incêndios, o desconhecimento da localização destas áreas e a dificuldade de prospeção em escarpas, são fatores que dificultam o estudo e as ações de conservação. Quanto à freira-do-bugio, a falta de condições de acesso e de permanecerem por longos períodos na inóspita ilha de Bugio contribuem para uma relevante falta de informação sobre o sucesso reprodutivo e outros dados da sua biologia.

AMEAÇA 7 (câmara) ©Pedro Nascimento.JPG

Esquema de monitorização geral desatualizado e insustentável (ambas as espécies)

O programa de conservação multidisciplinar, em andamento desde a década de 80, tem garantido a preservação destas aves marinhas endémicas, mas a sua taxa de crescimento tem estado abaixo do necessário para tornar as espécies resilientes a flutuações que podem resultar em extinção.

O programa de trabalhos desenvolvidos (como a monitorização da reprodução e o controlo de predadores), altamente dependentes de um esforço humano e financeiro, é insustentável. Neste contexto é prioritário modernizar este programa com tecnologias inovadoras tornando-o mais eficaz e eficiente, sendo a única forma de garantir a autossustentabilidade destas espécies.

Conservação

CONSERVAÇÃO

Informação brevemente disponível.

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